segunda-feira, 3 de maio de 2010

Kengo: Opus único

Esta coluna é dedicada ao LP Op. I, único lançamento do grupo Kengo.

Formado no interior de São Paulo, tinha como membros João Carlos Petoilho, o Petô (violão, voz, coro, baixo elétrico e percussão), Thebano Emílio (violão, violão com vara, voz e percussão) e Helton Barros (violão, vocal e baixo acústico).

De característica essencialmente acústica, o disco soa extemporâneo, algo como uma MPB produzida em algum estúdio underground, mezzo início dos anos 1970, mezzo início dos 80. Só que, surpreendentemente, foi gravado e editado em 93, com uma prensagem independente limitada a apenas mil cópias. Op. I apresenta uma linha estilística coerente: as dramáticas e apocalípticas Mãos, Arautos, Dias e Sonhos, Construtores e Piratas, trilham a linha folk-progressiva com forte acento MPB, bastante semelhante ao estilo d’A Barca do Sol – grupo que, particularmente, considero um clássico absoluto do rock progressivo brasileiro. Por sua vez, Normalmente, Pessoas, Opressão e Tarde de Chuva passam pela MPB independente dos anos 80, com baladas de sonoridade e poética nitidamente pós-hippie e pé-na-estrada. Por fim, flertaram com a MPB experimental da Vanguarda Paulistana dos anos 80, via Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção na jazzística, teatral e humoresca Latrocínio – um poema jazz. Os arranjos instrumentais são elaborados e instigantes, indo da suavidade e delicadeza folk a idéias tipicamente progressivas, com leves toques experimentalistas. Os vocais, por vezes rascantes e ásperos, causam sempre uma certa estranheza, até mesmo para ouvidos iniciados e acostumados a esquisitices musicais.

Após o óbvio insucesso do disco junto às media onde ele foi divulgado e movido a conseqüentes divergências internas o Kengo se dissolve. Seus integrantes passam a se dedicar apenas às suas atividades profissionais, fazendo música eventualmente e de forma particular. O LP, nunca distribuído comercialmente, torna-se mais uma das raras pérolas perdidas na música produzida no Brasil.

Em 2004 Petô produz uma versão caseira do disco, intitulada Op. II, adicionando intervenções eletrônico-experimentais, inserindo a inédita Baleias Azuis e acrescentando modificações às faixas Arautos, Construtores e Piratas.

Até a próxima coluna, com mais uma surpresa sonora.

(Publicada originalmente em 2008)

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