quinta-feira, 6 de maio de 2010

Renasce a Rosa de Sangue de Lula Côrtes

Finalmente! Relançado um dos mais cultuados e raros álbuns da música underground produzida no Brasil: o LP Rosa de Sangue, do multifacetado artista pernambucano Lula Côrtes. Com uma tiragem limitada a apenas 500 cópias, essa esmeradíssima reedição estadunidense, em LP de vinil de 180 gramas e CD, foi merecidamente (re)alçado do limbo mítico das lendas-raridades. A edição em LP reproduz toda a parte gráfica do original, trazendo o duplo encarte em papel couchê com as letras e a ficha técnica, o selo Mocambo e inclui, ainda, um encarte em inglês com texto escrito pelo próprio músico.

Diferente do que se poderia esperar de um disco gravado nem 1980, esse é um exemplo incrivelmente tardio, mas extremamente significativo e emblemático, da contracultura brasileira e diretamente influenciado pela vertente musical da Psicodelia e do Tropicalismo. Como característica destes, o disco traz uma mescla de influências e estilos, fazendo uso de influências as mais diversas: da música nordestina – forró e frevo – ao rock psicodélico, da poesia viajante, tipicamente hippie, a tonalidades folky. Cercando-se dos seus companheiros da cena udigrudi pernambucana, Lula contou com o auxílio mais-que-luxuoso de nomes como Jarbas Mariz, Alceu Valença, Paulo Rafael, Zé da Flauta, Don Tronxo, Ricardo Uchoa, Cátia de França e outros, transformando essa obra em um clássico da rock brasileiro.

As diversidades estilísticas vêm à tona durante toda a audição, mas destaco apenas algumas, como a mística Bahjan – Oração para Shiva, que mostra uma ambiência hindu-religiosa com inebriante vocal feminino, de Ratnabali. A faixa conta ainda com Lula, nas tablas e tricórdio acústico e Zé da Flauta, na flauta, óbvio, remetendo a lendários progressivos alemães, como o Popol Vuh, em seus discos com a participação da cantora Djong Yun, Ash Ra Tempel e outros. A instrumental Nordeste Oriental é puramente Música Armorial, movimento de valorização da cultura nordestino-brasileira, lançado por Ariano Suassuna em 1970. Já Noite Preta é um inacreditavelmente enlouquecido swing – ou samba-rock, como preferem alguns – up-tempo carregado de guitarras fuzz e seguindo os genitores do estilo, o Trio Mocotó, mas acrescentando um groove de disco music poderoso. Em Dos Inimigos Lula consegue a proeza de fazer uma balada deliciosamente bluesy mas com toques hard (?!), deixando livre uma soberba guitarra que plana em voo contínuo e magnífico. Balada da Calma, guitarras fuzz sempre presente, é daquelas músicas com melodia tão bela e envolvente que dá vontade de ouvir e ouvir e ouvir e ouvir uma vez mais. Sensação que continua em Balada de Sangue, um breve tema instrumental que encerra o LP em um clima folk elétrico altamente progressivo e climático. Uma pena acabar. Esse merecia ser um álbum-duplo...

(Publicada originalmente em 2009)

O Sebbo que soa

Surpreendente. Essa foi minha reação quando escutei o CD Por que não sabíamos voar (2008), do quinteto O Sebbo. Formado em Curitiba em outubro de 2001, conta em sua formação atual com Rafael Marchiorato (órgão Hammond, piano, piano Fender Rhodes, sintetizadores e vocal), Margareth Blaskievicz (vocal e percussão), Geison Budel (baixo e violão de 12 cordas), Hermann Ruthes (guitarra e vocal) e Marcelo Guedes (bateria).

Na maior parte das faixas apresentam um hard rock progressivo, bastante elaborado e com uma forte pegada, mas demonstrando uma valorização da música brasileira, o que sempre foi uma característica do progressivo nacional, principalmente durante a década de 1970. O acento setentista é sempre nítido e parece caracterizar o repertório e as intenções estilísticas. Destaco no trabalho instrumental as passagens de órgão Hammond B4, os solos e riffs de guitarra, a pulsante e segura dupla baixo-bateria, o trabalho de percussão e os vocais feminino e masculinos, tudo sempre com um som “sujo”, no melhor sentido, o que é uma outra grande característica do bom rock dos anos 70.

Faixas como Leme do Som, Flocos Leves de Arroz, 1º de Outubro (essa com uma bela levada instrumental pinkfloydiana), Vozes Distantes e Mundo de Fantasia trazem influências marcantes de ícones clássicos do rock brasileiro em seus momentos mais progressivos e pesados, como O Terço, Mutantes, Casa das Máquinas, A Bolha, Pholhas, Recordando o Vale das Maçãs entre outros, tanto nos arranjos quanto na poética. O mesmo ocorre na bela e lúdica De Fato, dessa vez mostrando forte influência dos Secos & Molhados em seus melhores momentos. Já em O Sol Vai Brilhar, Tempo ao Tempo, Um Sonho e Nada Mais revelam o lado mais heavy do grupo, mesclando toques de hard blues. Em Não Brinque Comigo eles fazem um rock à la Allman Brothers, porém, com uma levada fortemente funky. Degrau é um folk elétrico de tonalidades psicodélicas e progressivas, com um toque épico, em andamento downtempo e com uma bela passagem orquestral. O CD encerra lá em cima com a pancadaria latina de Feitiço, que poderia ter sido tirada de um Santana em sua melhor fase fusion-progressiva, em discos como Caravanserai e Borboleta.

A despeito do nome do CD, O Sebbo voa, sim. Voa alto e soa bem.

Abram as asas e alcancem uma cópia. Abraçonoros e até a próxima decolagem.

(Publicada originalmente em 2009)

segunda-feira, 3 de maio de 2010

A Miragem d’Os Lobos


O enfoque de hoje vai para um grupo de conterrâneos: a lendária banda Os Lobos. Formada em Niterói em 1964, teve sua vida artística mais dedicada às apresentações ao vivo – em bailes, clubes, programas de rádio e TVs – do que às escassas e espaçadas gravações em todos os seus anos de atividades.

Falo aqui apenas sobre o que é considerado seu melhor e mais importante trabalho, o LP Miragem. Único lançado durante sua fase áurea, foi editado pelo selo Top Tape sob o número de série TT-0002 em 1971. É um excelente disco, tendo características marcantes dos anos da Psicodelia e cujo som é uma mescla de estilos bem a caráter do gênero. Apresenta faixas mais voltadas para um rock psicodélico carregado de humor e deboche, tanto nas letras quanto nas músicas, como nas faixas Seu Lôbo (sic), You e Pasta de Dentes Sabor Chicletes. Nestas, eles demonstram claramente seu lado mais influenciado pelos Mutantes da fase inicial, o que, convenhamos, não é de modo algum um demérito. O Homem de Neanderthall e Meu Amor por Cristina são mais pesadas, arrastadas, onde o grupo demonstra sua influência mais black, em acentos e vocais soul-psicodélicos. Baladas folk com tinturas e temáticas hippies, assim são Santa Teresa, Dorotéia, a linda e melódica Avenida Central e a bela e viajante faixa título. Os arranjos são sempre criativos e trazem um quê de sofisticação, mesclando detalhes característicos como guitarras distorcidas, vocais femininos e masculinos com efeitos, órgão, pianos, violões, naipe de violinos etc.

Vale citar a que completam a discografia do grupo: LP Os Lobos (Niterói Discos, 91); LP O Espigão, trilha sonora da novela (Som Livre, 74): faixa Na Sombra da Amendoeira; LP As 12 Finalistas do VII FIC (Fase Nacional) (Som Livre, 72): faixas Eu Sou Eu, Nicuri é o Diabo e Let Me Sing, Let Me Sing; compacto Cabine Classe "A" / Fanny (Savoya); compacto Só Vejo Você / Cristina (Savoya); compacto Avenida Central / Santa Teresa (Top Tape, 71 – retiradas do LP Miragem); compacto Momentos do VII FIC (Som Livre, 72): faixa Pente, creditada a Claudio Ornellas e Os Lobos; compacto Você Precisa Acordar / Jogo de Amor (CBS, 75).

Para os pesquisadores, uma dica: o livro Liverpool – Cantareira: Rota do Rock traz fotos raras e detalhes sobre o grupo, além de dezenas de outros de Niterói.

Abraçonoros e até a próxima viagem!

(Publicada originalmente em 2009)

bonequinho é uma banda?

Há algum tempo chegaram às minhas mãos dois CD-Rs do grupo paulista, de Bauru, bonequinho: Alien Totem e Gottanz – Volume I. Fiquei imediatamente chapado quando os escutei! Poucas vezes ouvi grupos brasileiros fazendo um rock tão visceral, underground e experimental, com influências – ou semelhanças – tão importantes e variadas.

Com total liberdade criativa, eles conseguiram produzir um estilo em que transitam do rock alemão eletrônico setentista de K(C)luster e Neu a King Crimson, Frank Zappa, Magma (e Zeül Music em geral); de Hawkwind aos punk psicodélicos japoneses dos anos 80 e 90; da brutalidade noise industrial à eletrônica hipnótica e uma tonelada de outras influências punk, heavy, concretistas etc. As faixas são quase sempre bastante longas, carregadas de experimentalismos e improvisações. A discografia deles é composta pelos CDs Pre-Post (1993-2000), Vinil/Nihil (1998-2001), Desarte (2003), Alien Totem (2006), Mimeto Pascal EP (2006) e Gottanz (Volume 1) (2007), além várias fitas de áudio e de vídeo. Toda sua produção é editada pelo selo Platonic(a)Music(a), do próprio grupo, sempre em tiragens mínimas e não distribuídas comercialmente. Gottanz (Volume 1), por exemplo, foi lançado em uma tiragem limitada a 77 cópias feitas artesanalmente.

O grupo pode ser achado em vários endereços Internet afora, onde todo o material é disponibilizado livremente. Anote: www.bonequinhologia.blogspot.com, www.tramavirtual.com.br/bonequinho, www.orkut.com/Community.aspx?cmm=8281117, www.myspace.com/bonequinho e museudofuturo@gmail.com.

Coerentes em sua linha de anarcopensamento, eles intitularam a comunidade que mantém no Orkut de bonequinho é uma banda? Aproveito a deixa e digo: sim, bonequinho é uma banda! Uma banda com som e postura instigantes, agressivos e provocativos, sem meio-termo, sem concessões. Se você não recua diante desse tipo de experimentação sonora/sensorial, deixo o convite: corra atrás, descubra, abra a cabeça e aumente o som, ou vice-versa.

Até a próxima!

(Publicada originalmente em 2008)

Kengo: Opus único

Esta coluna é dedicada ao LP Op. I, único lançamento do grupo Kengo.

Formado no interior de São Paulo, tinha como membros João Carlos Petoilho, o Petô (violão, voz, coro, baixo elétrico e percussão), Thebano Emílio (violão, violão com vara, voz e percussão) e Helton Barros (violão, vocal e baixo acústico).

De característica essencialmente acústica, o disco soa extemporâneo, algo como uma MPB produzida em algum estúdio underground, mezzo início dos anos 1970, mezzo início dos 80. Só que, surpreendentemente, foi gravado e editado em 93, com uma prensagem independente limitada a apenas mil cópias. Op. I apresenta uma linha estilística coerente: as dramáticas e apocalípticas Mãos, Arautos, Dias e Sonhos, Construtores e Piratas, trilham a linha folk-progressiva com forte acento MPB, bastante semelhante ao estilo d’A Barca do Sol – grupo que, particularmente, considero um clássico absoluto do rock progressivo brasileiro. Por sua vez, Normalmente, Pessoas, Opressão e Tarde de Chuva passam pela MPB independente dos anos 80, com baladas de sonoridade e poética nitidamente pós-hippie e pé-na-estrada. Por fim, flertaram com a MPB experimental da Vanguarda Paulistana dos anos 80, via Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção na jazzística, teatral e humoresca Latrocínio – um poema jazz. Os arranjos instrumentais são elaborados e instigantes, indo da suavidade e delicadeza folk a idéias tipicamente progressivas, com leves toques experimentalistas. Os vocais, por vezes rascantes e ásperos, causam sempre uma certa estranheza, até mesmo para ouvidos iniciados e acostumados a esquisitices musicais.

Após o óbvio insucesso do disco junto às media onde ele foi divulgado e movido a conseqüentes divergências internas o Kengo se dissolve. Seus integrantes passam a se dedicar apenas às suas atividades profissionais, fazendo música eventualmente e de forma particular. O LP, nunca distribuído comercialmente, torna-se mais uma das raras pérolas perdidas na música produzida no Brasil.

Em 2004 Petô produz uma versão caseira do disco, intitulada Op. II, adicionando intervenções eletrônico-experimentais, inserindo a inédita Baleias Azuis e acrescentando modificações às faixas Arautos, Construtores e Piratas.

Até a próxima coluna, com mais uma surpresa sonora.

(Publicada originalmente em 2008)

Do gélido underground siberiano emergem punks psicodélicos



Pois é... Quem pensa que a Sibéria é só uma terra friorenta, coberta de gelo a maior parte do ano e, outrora, local preferido para a instalação dos campos de concentração stalinistas, está redondamente enganado e precisando de uma atualização. Lá também é o berço de belas e estranhas obscuridades sonoras. Assim sendo, vou enfocar aqui três discos vindos daquelas paragens.

Do grupo Yegor i Opizdenevshie tenho em mãos duas raridades, seus dois primeiros discos: Pryg skok - detskie pecenki (CD em uma edição austríaca de 1990 (BSA OM 02-039), limitada a 300 copias) e o álbum duplo (2 LPs) Sto let odinotchestva (100 years solitude) (Grob Records/Zolotaia Dolina ZD003), de 92. Em ambos, o som desses malucos pode ser comparado a uma estranhíssima e saborosa fusão de estilos como a música cósmica de tendência alemã do grupo sueco de The Spacious Minds, com a elaboração e sofisticação punk experimental do Public Image Limited inicial, das Mercenárias (em seu LP Trashland, de 88) e dos gaúchos do Colarinhos Caóticos, em seu LP Introdução, também de 88, tudo isso entremeado a fortes influências de folk ácido psicodélico absolutamente setentista. O grupo lançou ainda um terceiro e último disco, Psychedelia Tomorrow, em 93. Formado por Yegor Letov em 90, teve como membros Konstantin Rjabinov, Igor Igor Jevtum, Alexander Rojkov, Julia Sherstobitova e Anna Volkova.

Originária da cidade de Novosibirsk, temos a cantora Yanka Dyagileva com seu último LP-solo, Styd i sram (Shame and reproach) (Grob Records/Zolotaia Dolina ZD004), lançado em tiragem limitada de apenas 1000 copias após o falecimento dela em 1991 – seu corpo foi encontrado em um rio perto de sua residência depois de nove dias de desaparecimento e, provável, suicídio. O estilo é um folk acido underground experimental e bastante instigante, mesclando violões acústicos com guitarras pesadas, vocais femininos, em russo, que vão de uma bela suavidade lírico-progressiva a uma elaborada aspereza soft punk e toques de musica cósmica neo-psicodélica. Participam como grupo de apoio os músicos Yegor Letov (guitarras, baixo e produção), Igor Jevtum (guitarras) e Anna Volkova (vocal), membros do Yegor i Opizdenevshie. O LP é uma variação do álbum anterior Yanka & Grazhdanskaya Oborona live in MEI, de 90, contendo versões modificadas e remasterizadas, com uma orientação mais elétrica e menos acústica, de gravações feitas entre 1988 e 1991.

Do svidanyia, tovarishy! (Nota do tradutor: até logo, camaradas!).

(Publicada originalmente em 2007)

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Peyote e Espinha de Peixe: progressivos dos anos 2000

A música feita no Brasil é uma eterna fonte de ótimas surpresas para todo pesquisador e colecionador de discos, de quaisquer estilos, uma verdadeira Cornucópia de bons sons. Exemplos disso são os CDs lançados por dois grupos no início dos anos 2000, o Peyote e o Espinha de Peixe.

Surgido em Niterói, RJ, o trio Espinha de Peixe, formado por João (voz e violão de 12 cordas), Pardal (voz e violão) e Moreira (flauta, voz e gaita), além de diversos convidados, editou seu único e homônimo CD em 2001, de forma independente, em uma tiragem de pouquíssimas cópias, nunca comercializadas. Fazendo uma fusão de inspiração setentista, mesclam o rock progressivo com a MPB e soam como uma combinação bastante interessante de Alceu Valença, os folk-hippies-ácidos nordestinos dos anos 70 e o Jethro Tull, ícone do blues-progressivo britânico. O som é fortemente marcado pela utilização de flautas, guitarras pesadas, violões folk e uma bateria poderosa. Dentre as 10 faixas do CD, destaco as belas Cavalos de areia, O trem, Menina, Reflexos, Fogo (instrumental), Peixe-boi e Verticalizar, que sintetizam toda sua proposta musical.

O Peyote, surgido em Belo Horizonte em meados de 1997, lançou seu único CD, Abstrato, também de modo independente, em 2002, com uma tiragem de apenas 500 cópias. Nesse excepcional CD-EP o grupo também nos traz um rock progressivo com toques de MPB, acrescido de influências do psicodelismo e do hard rock, nas cinco e bastante elaboradas faixas que o compõem: Cerimonia do peyote, Semente de cactus, Glorias, O baile e Boemia. Destaque para as guitarras (com pedais wah-wah inclusive) de Rodrigo Ferreira e Henrique Porfírio e as flautas de Pedro Ladeira (também nos vocais). Integravam o grupo, ainda, Frederico Abreu (bateria) e Dauler Gomes (baixo). Para completar a qualidade do trabalho, uma belíssima capa digipack de tonalidades e inspiração psicodélicas, acompanhada de um livreto de 12 paginas com as letras e textos inspirados no livro Mandala, de Roger Hein. Eles continuam gravando esporadicamente e duas de suas novas músicas, Bambu oco e Extremos, seguem o estilo do CD, mas com um pouco mais de peso nas guitarras, e com os novos integrantes Alexandre Arnoni (bateria), Fernando (baixo) e Léo Dias (vocal). Como detalhe, o disco teve uma prensagem em 2004, encartado na revista norte-americana While you were sleeping, quando Rodrigo fazia seus
estudos de guitarra nos EUA.

Até a próxima. E som na caixa!

(Publicada originalmente em 2007)
Hawkwind: Os Lordes da Guerra Psicodélica

Estava escrevendo essa coluna, ainda eufórico com a notícia sobre os shows do lendário grupo de space rock Hawkwind, quando soube do cancelamento da turnê brasileira deles. Confesso que estou absolutamente decepcionado, mas... rei morto, rei posto. Aí vai minha pequena homenagem a um dos grupos mais importantes do underground planetário. Como fã de longuíssima data, eu poderia escrever a respeito deles durante horas, mas nosso espaço não permite viagens tão longas – principalmente em se tratando de um grupo em plena atividade desde o fim da década de sessenta.

Formado em 1969 nos bairros de Notting Hill e Ladbroke Grove, arredores de Londres e berço da contracultura e do underground ingleses, o grupo foi o criador do space rock, derivação do rock psicodélico altamente influenciada pelo uso do LSD e substancias congêneres. Autodenominados Psychedelic warlords (título de uma de suas músicas), suas letras sempre foram marcadas pela presença de temas como ficção científica e drogas. Porém, nunca se deixaram marcar pela alienação, já que a abordagem de temas envolvendo política, crítica social e terrorismo são uma constante em suas músicas. O som sempre foi altamente energético, pesado, marcado pela experimentação e pelo uso de guitarras chapadas, sintetizadores planantes, ruídos eletrônicos, sax e flauta ensandecidas, bateria pesada, baixo pulsante e violino hipnótico. As músicas são essencialmente longas, densas, algo angustiantes – trilhas sonoras para viagens nada new age.

A formação deles sempre foi extremamente variável. Idas e vindas em épocas distintas foram comuns, como nos casos de Bob Calvert (vocal e poesias), Michael Moorcock (vocal e poesias – também escritor de ficção científica e magia & barbarismo), Nik Turner (sax, flauta), Simon House (violino, teclados, Mellotron), Martin Griffin (bateria), Huw Lloyd-Langton (guitarra, vocal), Harvey Bainbridge (baixo, teclados, vocal), Tim Blake (teclados, vocal), Alan Davey (baixo, teclados, vocal) e Jerry Richards (guitarra, teclados, vocal). Capitaneando os falcões desde os primórdios, o tresloucado guitarrista, tecladista e vocalista Dave Brock. Com o tempo, as asas do Hawkwind se expandiram e alguns de seus membros formaram outros grupos: Nik Turner’s Sphinx, Michael Moorcock and The Deep Fix, Melodic Energy Commision (do tecladista Del Dettmar) e Motörhead (do baixista e vocalista Lemmy Kilmister).

A discografia, tanto oficial como pirata, é enorme, mas meu destaque vai para os discos Hawkwind (70 – com o hino Be yourself), In search of space (71), Doremi fasol latido (72), Space ritual (73), Space ritual vol. 2 (85 – com gravações de 72), Hall of the mountain grill (74), Warrior on the edge of time (75), Hawklords (80 – neste, o grupo muda de nome devido a razões contratuais), Levitation (80), Sonic assassins (82 – EP com gravações ao vivo de 77) e, ainda, o teatral Captain Lockheed and the Starfighters (74 – solo de Bob Calvert com a participação do próprio HW, de Brian Eno etc) e Xitintoday (78 – solo de Nik Turner, acompanhado de Steve Hillage, Tim Blake e outros).

Aos que ainda não conhecem o grupo, recomendo correrem atrás, pois eles são história do rock. Boa viagem!

(Publicada originalmente em 2007) 

Ed Lincoln e uma turma da pesada


De Savoya Combo não é apenas um dos muitos pseudônimos usados pelo lendário organista e pianista cearense Eduardo Lincoln, mais conhecido como Ed Lincoln. Por trás desse nome está, na verdade, uma superformação que deixou gravado o LP De Savoya Combo, lançado em 1969. Nele, além do próprio Lincoln, faziam parte Orlandivo (vocal e percussão), Tony Tornado (vocal e percussão), Claudio Roditi (trompete), Durval Ferreira (guitarra) e Luiz Alves (baixo). De savoya combo mostra uma mescla de estilos, desde sambalanços clássicos como Jogaram o caxangá, hit em clubs mundo afora nos anos 90 (também editado no LP de 73 sob o nome de Ed Kenned), Angra e Mah-ná mah-ná (com vocais esquisitamente legais de Orlandivo e bela citação ao hino do Flamengo). Há, também, instrumentais no melhor estilo easylistening-Bossa Nova, em levadas deliciosamente trilha sonora de filmes sessentistas, com Ed e Roditi brincando nas versões de Stormy, Hello Monalisa, Sugar sugar, Je t´aime... moi non plus. Além de Evie, com vocal soul rascante de Tony Tornado. Essa formação era oriunda do petardo inaugural do músico em seu próprio selo, o magistral LP Ed Lincoln (Savoya SV-OO1), de 68, que trazia Sack o’ woe (saca uô), Catedral e Choro do bebê em um disco cheio de grooves matadores, Bossa Nova com órgão Hammond e vocais scat com influências psicodélicas.
  
Em 1972, Lincoln revisita o conceito De Savoya Combo e lança o raro e ótimo LP De Savoya (Polydor 2451 011), onde ele e sua trupe (não conheço a formação que tocou aqui) caem de cabeça no funk e no sambalanço com idéias psicodélicas e jazzísticas, em uma penca de tirambaços de arranjos elaborados e saborosos. Valem como exemplo as faixas Peixeiro – arretado funkão mid-tempo com uma hipnótica levada de baixo & vocais minimalistas –, Ê tum da - outro na mesma linha –, Fittipaldi, O pai dela, Sacode, sacode, Shazan, La decadanse, Caramba!...galileu da Galiléia e Mandei buscar. As baladas Ser dia outra vez e More today vêm com fortes tonalidades psicodélicas, pontuadas por grooves de baixo pesado e fraseados de bongôs. Detalhe: Caramba!... e Mandei buscar foram também editadas na coletânea Sucessos de ouro vol. 2, da Polydor, 72, que traz ainda a rara O Carona, funk pesadão com Tony e o Som Colorido, composição da dupla de soul music Tony & Frankie.

Podem correr atrás dessas jóias porque realmente valem à pena. Boa caçada!

(Publicada originalmente em 2007)

Erotic Disco Music à brasileira

Na semana passada, o assunto foi o erotic funk. Nesta, vou abordar um pouco a vertente erotizada da disco music brasileira.

Quando surgiu no Programa Carlos Imperial, na extinta TV Tupi do Rio, nas sensuais noites de sexta feira do longínquo ano de 1979, cantando (hã??) o clássico mega hit disco-kitsch Freak le boom boom, a musa rebolativa Gretchen não só apresentava a uma ávida audiência seus dotes físicos – esses bem interessantes! – como fazia chegar ao mercado popular a “discoteca” sensualizada à brasileira. A citada música era o carro-chefe do seu primeiro LP, My name is Gretchen, produzido pelo seu descobridor e empresário, o espertíssimo argentino Santiago “Mr. Sam” Malnati. Esse disco trazia também as cool e sexy Shake shake aia! e Boogie boogie e mostrava a, digamos assim, intérprete, em uma foto de capa pra lá de sensual, além de vir acompanhado de um pôster dela, um total item de colecionador!

Por falar em Gretchen, seu auto-intitulado LP, de 83, traz outro clássico, uma verdadeira e inesperada surpresa: uma versão erotic funk, super sexy e muito bacana, para o samba-funk de Jorge Ben(jor) Ela tem raça, charme, talento e gostosura, com o auxílio luxuoso de Luis Vagner na guitarra jazzy e vocal, e um nervoso naipe de metais. Seguindo essa linha gostosona, sensual, sussurrante & dançante, temos a ex-chacrete Fernanda Terremoto com a também surpreendente e sexy Eu quero te amar. Composta por ninguém menos que Tim Maia e lançada em compacto simples (com a bela seminua na capa, claro!) em 84, a música soa no estilo disco funky da clássica e sensacional dupla Robson Jorge & Lincoln Olivetti.

The Freedom Machine, grupo fake brasileiro, em seu LP Erotic Discotheque, de 78, também produzido pelo Mr. Sam, inclui a matadora versão disco-funk para a música Jangada (composição da dupla Dom & Ravel), com um vocal feminino cheio de sussurros e batidas afro. Free love segue em uma mescla de euro disco com toques de samba, misturando Fender Rhodes e riffs de sintetizador com cuíca e guitarra pesada com vocal feminino. O restante do disco traz umas faixas disco-samba estranhíssimas, bem legais, de tão esquisitas que são. Como detalhe, a versão original de Jangada saiu em 77 no LP Em todos os tempos, de Dom tem uma levada mais disco que é muito interessante, totalmente fora do estilo brega habitual do cantor.

Profissão mulher, um escasso LP de 82, trilha sonora da pornochanchada homônima, nos brinda com a atriz, dançarina e modelo Wilma Dias cantando (em português e francês) e sussurrando a única faixa inédita do disco, a pérola inspiradora La massagiste, de Lincoln Olivetti & Robson Jorge. Curiosidade: a capa traz a foto da ex-atriz Simone Carvalho, estrela do filme, nua e lindíssima.

Bons sonhos!!

(Publicada originalmente em 2007)

Erotic funk: dando a segunda!

Volto ao tema da semana passada para falar mais um pouco mais sobre alguns discos e músicas do funk erótico brasileiro dos anos setenta.

O grupo Os Carbonos, sob o nome de The Magnetic Sounds (vide detalhes sobre eles na coluna anterior), continuaram com o estilo lançando em 1972 um EP de 7” com quatro faixas – também conhecido no Brasil pela alcunha de compacto duplo – Angela’s love theme onde o destaque absoluto era Red signal, um funk latinesco com surpreendentes toques de rock progressivo. Detalhe: o disco é a trilha sonora da pornochanchada Sinal vermelho – as fêmeas, estréia de Vera Fischer no cinema, co-estrelado por David Cardoso e dirigido por Fauzi Mansur.

No muito raro LP de 74, A virgem de Saint Tropez, trilha sonora da homônima pornochanchada franco-brasileira, o genial maestro-tecladista-cantor Hareton Salvanini gravou várias faixas dentro de uma elaborada fusão erótica, além de dois excelentes temas totalmente blaxploitation, cravejados de guitarra com pedais wah-wah.  Como adendo histórico, a balada You can’t run away from your destiny é cantada por um iniciante Edu "Dudu" França. Em Espairecendo e Não podes fugir... a cereja do bolo são os jazzísticos vocais masculinos em scats. A dupla Giselle et Julien (alguém sabe quem e os músicos ?) nos deixaram um compacto com Je T´Adore e Le Monde Erotique de Giselle, esta última um ótimo soul psicodélico com destaque para o som do órgão (é o instrumento... Êpa! desculpem os trocadilhos) e para os vocais femininos sussurrados, seguindo o estilo Super erótica!/The Magnetic Sounds. Não há data de lançamento no disco, mas com certeza foi editado pela gravadora Musidisc no início dos anos 70.

No anônimo LP Super erótica na intimidade - Erótica vol. 3, de 75, o clima fica pra lá de quente no magistral funkaço Jungle fever, original do grupo The Chakachas e regravado por uma tonelada de grupos fake. Na verdade, não sei se este LP foi mesmo gravado por algum grupo brasileiro ou estrangeiro – não há nenhuma referência nem na capa nem no selo, como de hábito nos discos dos projetos falsos-picaretas que algumas gravadoras brazucas costumavam lançar –, mas a faixa em questão vale mais do que à pena ser citada e escutada! Êxtase, coletânea editada em LP no Brasil em 77, trouxe nomes fake locais como Les Femmes, em outra cover arrepiante para Jungle fever. Num climão mais para música chill out, aparecem Monique et Pierre com a declamada Les Amants e Andrea et Nicole na orgástica balada La prima volta.

Já em meados dos anos 70, as gravadoras no Brasil aproveitaram o filão erotizado e introduziram (!!!) a estética sussurrante na disco music, mandando ver em lançamentos de discos e artistas novos, tendo como o ícone rebolativo mor, Gretchen.

Mas essa história fica para uma outra coluna.

(Publicada originalmente em 2007)

Erotic funk brasileiro: no rastro de Serge Gainsburg

Calma!! Essa coluna não é sobre Tati Quebra-Barraco e suas letras libidinosas, e sim sobre o estilo surgido em fins dos anos 1960 no rastro do mega sucesso erótico-romântico do cantor-produtor-poeta-bad boy de plantão Serge Gainsbourg, a música J’ai t’aime... moi non plus, gravada com sua então mulher, Brigitte Bardot, regravada e lançada em LP em 69 com sua nova e sussurrante namorada, Jane Birkin.

Bem, música com pitada de sacanagem nunca foi novidade no Brasil; samba, xadado, forró, etc., sempre deitaram e rolaram (êpa!) nessa praia. Aproveitando o sucesso de Gainsbourg, a gravadora CID lançou o anônimo LP instrumental-erótico Erotíssima ainda em 69 (é o ano, hein...), que além da matadora faixa-título, trazia Le couple, surpreendente já na introdução, com um que de Exotica, à la trilha sonora de filme de suspense, desembocando numa parede de guitarra heavy fuzz psicodélica num funk arrassa-quarteirão. A faixa Le Telephone é um belo exemplo de luxurious music, ótima para um lounge. A versão de J’ai t’aime... é fiel à original. O disco todo soa bastante excitante (oh yeah, babe!) e bem produzido, fato natural em se tratando do produtor ser Durval Ferreira, um dos mais importantes músicos, compositores e produtores brasileiros – falecido dia 17 de junho último. O LP tem forte presença de piano elétrico Fender Rhodes, órgão, Clavinette, baixo e guitarra funky marcantes e sax suingante. Reeditado em 74 como Super Erótico, traz nessa versão o perverso funk-jazzy-samba Erotic rhythm macumba, um club tune que faz lembrar o Azimuth em sua fase inicial.

Seguindo essa trilha, os pop-brega-jovem guarda Os Carbonos lançam de forma anônima em 70 o primeiro volume da série de LPs Super erótica! (relançado em 75 com capa diferente e sob o nome de The magnetic sounds), onde aparece a indefectível versão de J’ai t’aime..., em inglês, que não fazia feio frente à original (mas vem cá... e por que seria diferente?! Quando os assuntos são música e luxúria, o que nós brasileiros ficamos devendo ao franceses?!). O disco traz as orgásticas P.Z. (composição do grupo), Super erótica!, Doin’ It (de Ike Turner) e Flash, cheias de sussurros femininos pra lá de inspiradores e intervenções vocais masculinas – a cargo dos cantores Nalva Aguiar e Gilbert – flutuando sobre bases funk, em grooves instrumentais poderosos, com presença marcante de órgão, guitarras fuzz e wah-wah e baixo pesado. Seguindo a linha do anterior, Super erótica vol. 2 é lançado em 71. Nele se destacam o orgástico e arrasador funk psicodélico up-tempo Lost in space, a fusão lounge-psicodélico-bossanovista Performance e um cover quentíssimo de That’s what I am.

Não percam! Mais gritos e sussurros no próximo episódio!

(Publicada originalmente em 2007)

Musicais bicho-grilo em versões brazuca

O rock psicodélico feito no Brasil nunca foi tão comentado, ouvido e pesquisado quanto nos dias de hoje. Mas, a despeito disso, muitas pérolas do gênero continuam pouco conhecidas fora do mundinho dos colecionadores de discos. As edições em vinil de musicais hippie dos anos de 1960 e 1970 são um exemplo disso.

A versão em português do clássico hiponga Hair, foi lançada em LP (selo Fermata, nº FB 265) em 1969, apenas um ano depois da peça estrear em Nova York. Os arranjos, de orientação totalmente pop-psicodélica, foram excecutados por um grupo formado pelos músicos Antônio Tadeu Passarelli (órgão e piano), Murilo Alvarenga Júnior (flauta e guitarra), Eduardo Oliveira (guitarra) e outros. São nítidas aqui as mesmas influências sonoras e fontes humorístico-contestadoras-experimentais de onde surgiram Os Mutantes, O Bando e outros grupos contemporâneos brasileiros de rock. A direção musical coube a Cláudio Petraglia, e o elenco era recheado de novatos, como Sônia Braga, Armando Bogus, Araci Balabanian, Bibi Vogel, Rosa Maria Colin, Laerte Morrone e outros.

A versão nacional de Jesus Cristo Superstar, editada em LP pelo selo Sinter (nº 1.903) em 72, teve como produtor o lendário Maestro Daniel Salinas e versões para o português compostas por ninguém menos que Vinicius de Moraes. As músicas transitam do folk ácido na faixa Tudo está bem ao jazz-rock em Céu na Cuca, passando pelo hard psicodélico com tinturas soul music em Simão Zelote e Gethsemane, e pelo psicodélico-progressivo em Condenação e Superstar (nesta última há um quê de Frank Zappa). Uma pena que na ficha técnica do disco não constem os nomes dos excelentes músicos, apenas dos atores, entre eles, o já falecido cantor-ator Eduardo Conde, no papel de Jesus.

O musical brasileiro Missa Leiga, de Chico de Assis, com músicas de Cláudio Petraglia, foi editado em LP pela Som Livre (nº SIG 1013) também em 72. Gravado ao vivo, o estilo desse disco é bem interessante, remontando às experimentações dos maestros Rogério Duprat (na tropicalista Procissão de entrada), Hareton Salvanini (na dark Última oração) e Egberto Gismonti (na progressiva Kyrie). O som transita do introspectivo ao grandiloqüente, sempre cheio de declamações e passagens de coral com orientação operística, visitando ainda o samba na inesperada Salmo da paz. Os músicos participantes formavam um time da pesadíssima: Amilson Godoy (órgão), Claudio Petraglia (piano), Itibere Zwarg (baixo), Nestor (percussão) e Marcio Montarroyos (piston). O elenco contava com Armando Bogus, Rosa Maria Colin e Buzza Ferraz.

Até a próxima volta do prato do toca-discos!

(Publicada originalmente em 2007)

Eu juro que vi!

Semana passada falei sobre alguns artistas de Niterói-RJ que assisti nos idos dos anos de 1980/90. Hoje volto ao tema, mas abrindo o leque para grupos de outras paragens.

Ao Bacamarte, lenda do rock progressivo brasileiro, tive a sorte de assistir algumas vezes. Eu estava lá nos dois primeiros shows que fizeram um pouco antes do lançamento do LP Depois do fim (a foto do encarte do disco, com eles no palco, foi tirada em um desses dois). Num Circo Voador lotado, no dia 18 de dezembro de 1983, o grupo, totalmente inspirado, fez uma apresentação arrasa-quarteirão! O sucesso foi tão grande que eles voltaram a se apresentar no mesmo lugar, mais lotado ainda, uma semana depois, numa totalmente ensandecia noite de 25 de dezembro. Mega presentaço de Natal para os que lá estavam!! Outro show memorável do grupo aconteceu no Clube de Regatas Icaraí, quando da estréia da ótima vocalista Mirian Peracchi, assumindo os vocais no lugar de Jane Duboc.

O Serapis Bey, grupo dos anos 80, liderado pelo psicólogo e músico Kao Rossman, se apresentou no Planetário da Gávea em um show intitulado Serapis Bey e o som imediato do 3º grau. Além de seu som místico-progressivo com influências diretas do space rock à la Pink Floyd e da música eletrônica da Escola de Berlin (Tangerine Dream, Klaus Schulze etc.), chamou bastante a atenção o fato dos músicos se apresentarem fantasiados de extra-terrestres (!!!) e das projeções visuais no palco. Faziam parte do set-list as músicas que eles compuseram para a peça Blavastky, inspirada na vida da escritora Helena Blavastky. Gravaram somente uma fita cassete que foi vendida no show e que, por algum motivo já soterrado em minhas memórias, não comprei! (Caso alguém possua um exemplar e queira passar o original ou uma cópia, favor entrar em contato com esse colunista). Essa fita chegou a ser veiculada na íntegra em uma edição especial do programa Espaço Aberto da Rádio Fluminense FM, de Niterói, e cujo Tema de Morya (parte I ou II) fez parte da programação da mesma rádio durante um certo tempo.

Estive também no primeiríssimo concerto do Sagrado Coração da Terra na cidade do Rio de Janeiro, na Sala Funarte – lançamento do seu primeiro LP –, no dia 11 de junho de 85. Com um som sinfônico inusitado, no que se referia a grupos brasileiros dessa época, se destacavam, claro, o uso do violino elétrico (cheio de efeitos e pedais!) pelo líder Marcos Vianna (também nos teclados e vocais), sintetizadores e piano a cargo de Inês Brando e os vocais e vocalizes arrasadores da linda e excelente Vanessa Falabella.

Vi muitos outros shows lendários, mas aos poucos voltarei ao assunto. Até a semana que vem!

(Publicada originalmente em 2007)