sexta-feira, 30 de abril de 2010

Erotic funk brasileiro: no rastro de Serge Gainsburg

Calma!! Essa coluna não é sobre Tati Quebra-Barraco e suas letras libidinosas, e sim sobre o estilo surgido em fins dos anos 1960 no rastro do mega sucesso erótico-romântico do cantor-produtor-poeta-bad boy de plantão Serge Gainsbourg, a música J’ai t’aime... moi non plus, gravada com sua então mulher, Brigitte Bardot, regravada e lançada em LP em 69 com sua nova e sussurrante namorada, Jane Birkin.

Bem, música com pitada de sacanagem nunca foi novidade no Brasil; samba, xadado, forró, etc., sempre deitaram e rolaram (êpa!) nessa praia. Aproveitando o sucesso de Gainsbourg, a gravadora CID lançou o anônimo LP instrumental-erótico Erotíssima ainda em 69 (é o ano, hein...), que além da matadora faixa-título, trazia Le couple, surpreendente já na introdução, com um que de Exotica, à la trilha sonora de filme de suspense, desembocando numa parede de guitarra heavy fuzz psicodélica num funk arrassa-quarteirão. A faixa Le Telephone é um belo exemplo de luxurious music, ótima para um lounge. A versão de J’ai t’aime... é fiel à original. O disco todo soa bastante excitante (oh yeah, babe!) e bem produzido, fato natural em se tratando do produtor ser Durval Ferreira, um dos mais importantes músicos, compositores e produtores brasileiros – falecido dia 17 de junho último. O LP tem forte presença de piano elétrico Fender Rhodes, órgão, Clavinette, baixo e guitarra funky marcantes e sax suingante. Reeditado em 74 como Super Erótico, traz nessa versão o perverso funk-jazzy-samba Erotic rhythm macumba, um club tune que faz lembrar o Azimuth em sua fase inicial.

Seguindo essa trilha, os pop-brega-jovem guarda Os Carbonos lançam de forma anônima em 70 o primeiro volume da série de LPs Super erótica! (relançado em 75 com capa diferente e sob o nome de The magnetic sounds), onde aparece a indefectível versão de J’ai t’aime..., em inglês, que não fazia feio frente à original (mas vem cá... e por que seria diferente?! Quando os assuntos são música e luxúria, o que nós brasileiros ficamos devendo ao franceses?!). O disco traz as orgásticas P.Z. (composição do grupo), Super erótica!, Doin’ It (de Ike Turner) e Flash, cheias de sussurros femininos pra lá de inspiradores e intervenções vocais masculinas – a cargo dos cantores Nalva Aguiar e Gilbert – flutuando sobre bases funk, em grooves instrumentais poderosos, com presença marcante de órgão, guitarras fuzz e wah-wah e baixo pesado. Seguindo a linha do anterior, Super erótica vol. 2 é lançado em 71. Nele se destacam o orgástico e arrasador funk psicodélico up-tempo Lost in space, a fusão lounge-psicodélico-bossanovista Performance e um cover quentíssimo de That’s what I am.

Não percam! Mais gritos e sussurros no próximo episódio!

(Publicada originalmente em 2007)

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