sexta-feira, 30 de abril de 2010

Progressivos em ação: Meninos, eu vi!

Os anos 1980 foram um manancial para o progressivo brasileiro. Mais Lado B do que nunca, o gênero, por vezes, conseguia vencer o bloqueio do emergente e comercialóide pop local – sabe-se lá por que, chamado de rock brasileiro ou BRock. Naquela época, Niterói (RJ), terra da lendária Rádio Fluminense FM e sempre celeiro de bons sons e músicos, pariu belas pérolas... Vou enfocar apenas algumas delas hoje.

O grupo Laboratório, formado por uma turma de estudantes da Escola de Música da Universidade Federal Fluminense, fazia um som extremamente elaborado, mesclando elementos de Música Antiga, experimentalismos clássicos e rock; soavam um mix de grupos europeus dos anos 70 e 80 como Art Zoyd, Gryphon, Univers Zero, Camel e Gentle Giant. O primeiro show deles conseguiu incendiar os pobres neurônios dos felizardos presentes ao auditório do DCE da Universidade Federal Fluminense em um gelado sábado à noite em 1983, por aí... Contava com a musicista Kristina Augustin (viola da gamba, saltério e flautas), hoje uma profissional dedicada à música antiga e renascentista. Afirmo: foi o melhor grupo progressivo brasileiro que vi ao vivo! Há notícia de que existe uma gravação deles ao vivo, mas nunca tive acesso à fita.

Gisela Peçanha é uma cantora de treinamento clássico que fazia à época um som étnico-progressivo, algo como uma fusão dos ingleses do Dead Can Dance com os italianos do Opus Avantra & Donella del Mônaco. As experimentações de Gisela ficaram eternizadas em uma fita cassete-demo e no show de lançamento no Teatro da UFF, sempre acompanhada pelo tecladista Raul Rachyd. Esta fita foi editada pelo selo Cidade Eléktrica em tiragem de 100 cópias. Hoje em dia, a cantora faz uma bela e sofisticada MPB com toques jazzy-samba que pode – e merece! – ser conferida em seu CD Manta branca, do selo Niterói Discos. Este mesmo selo editou ainda uma outra pérola: a sensacional demo do sexteto Leprechaun, que fazia uma pulsante MPB-progressiva influenciados pela Barca do Sol, lenda-mor da música progressiva brasileira.

Outro show inesquecível foi o do Zenith, no Teatro do SESC de Niterói. Em sua primeira fase, o grupo seguia a clássica formação teclados-baixo-bateria, fazendo um progressivo pesado com forte presença de teclados e o suporte de uma cozinha verdadeiramente heavy. As letras, em português, eram cataclísmicas e pesadas como seu som, beirando às do Black Sabbath! Já como quinteto, editaram um LP pop alguns anos depois.

Na próxima semana tem mais!


(Publicada originalmente em 2007)

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