sexta-feira, 30 de abril de 2010

Musicais bicho-grilo em versões brazuca

O rock psicodélico feito no Brasil nunca foi tão comentado, ouvido e pesquisado quanto nos dias de hoje. Mas, a despeito disso, muitas pérolas do gênero continuam pouco conhecidas fora do mundinho dos colecionadores de discos. As edições em vinil de musicais hippie dos anos de 1960 e 1970 são um exemplo disso.

A versão em português do clássico hiponga Hair, foi lançada em LP (selo Fermata, nº FB 265) em 1969, apenas um ano depois da peça estrear em Nova York. Os arranjos, de orientação totalmente pop-psicodélica, foram excecutados por um grupo formado pelos músicos Antônio Tadeu Passarelli (órgão e piano), Murilo Alvarenga Júnior (flauta e guitarra), Eduardo Oliveira (guitarra) e outros. São nítidas aqui as mesmas influências sonoras e fontes humorístico-contestadoras-experimentais de onde surgiram Os Mutantes, O Bando e outros grupos contemporâneos brasileiros de rock. A direção musical coube a Cláudio Petraglia, e o elenco era recheado de novatos, como Sônia Braga, Armando Bogus, Araci Balabanian, Bibi Vogel, Rosa Maria Colin, Laerte Morrone e outros.

A versão nacional de Jesus Cristo Superstar, editada em LP pelo selo Sinter (nº 1.903) em 72, teve como produtor o lendário Maestro Daniel Salinas e versões para o português compostas por ninguém menos que Vinicius de Moraes. As músicas transitam do folk ácido na faixa Tudo está bem ao jazz-rock em Céu na Cuca, passando pelo hard psicodélico com tinturas soul music em Simão Zelote e Gethsemane, e pelo psicodélico-progressivo em Condenação e Superstar (nesta última há um quê de Frank Zappa). Uma pena que na ficha técnica do disco não constem os nomes dos excelentes músicos, apenas dos atores, entre eles, o já falecido cantor-ator Eduardo Conde, no papel de Jesus.

O musical brasileiro Missa Leiga, de Chico de Assis, com músicas de Cláudio Petraglia, foi editado em LP pela Som Livre (nº SIG 1013) também em 72. Gravado ao vivo, o estilo desse disco é bem interessante, remontando às experimentações dos maestros Rogério Duprat (na tropicalista Procissão de entrada), Hareton Salvanini (na dark Última oração) e Egberto Gismonti (na progressiva Kyrie). O som transita do introspectivo ao grandiloqüente, sempre cheio de declamações e passagens de coral com orientação operística, visitando ainda o samba na inesperada Salmo da paz. Os músicos participantes formavam um time da pesadíssima: Amilson Godoy (órgão), Claudio Petraglia (piano), Itibere Zwarg (baixo), Nestor (percussão) e Marcio Montarroyos (piston). O elenco contava com Armando Bogus, Rosa Maria Colin e Buzza Ferraz.

Até a próxima volta do prato do toca-discos!

(Publicada originalmente em 2007)

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